Investimentos em tempos de juros baixos

Investimentos em tempos de juros baixos

publicado em 18/07/2012 às 14:43:44



Períodos de queda das taxas de juros oferecem, geralmente, boas oportunidades nos mercados de renda variável. Juros menores tornam os custos dos financiamentos mais baixos e possibilitam que um número maior de pessoas possa consumir mais bens e serviços.

Como consequência do melhor ambiente de negócios, o faturamento e os lucros das empresas aumentam. Com o mercado aquecido, cresce a quantidade de contratações, os trabalhadores podem negociar aumentos salariais e, no fim, o aumento da renda realimenta o consumo e preserva o crescimento econômico.

A maneira mais direta para um investidor tirar proveito dos efeitos proporcionados pela queda dos juros é comprar ações de empresas negociadas na bolsa. O preço dos papéis de uma companhia guarda relação direta com o lucro que ela consegue gerar. Se as perspectivas para os ganhos são maiores, a cotação da ação deve subir.

A relação entre o preço e o lucro por ação é acompanhada diariamente pelos especialistas do mercado. Apesar de existirem diversos fatores que podem afetar o lucro da companhia, o bom ambiente econômico exerce papel fundamental. Essa é a principal razão para as recomendações de investir em ações em períodos de queda dos juros. Porém, não é bem isso que estamos vendo hoje por aqui.

Em 2011, a taxa Selic atingiu 12,5% ao ano. O patamar foi estabelecido na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) encerrada no dia 20 de julho do ano passado e permaneceu em vigor entre 21 de julho até 31 de agosto de 2011.

Desde então, nas oito reuniões seguintes, o Banco Central (BC) cortou continuamente a taxa básica. Na última reunião do Copom, a taxa foi fixada em 8% ao ano.

Em um primeiro momento, passada a surpresa pela decisão do BC de iniciar, de forma inesperada no fim de agosto, o corte dos juros, a bolsa reagiu positivamente. O Ibovespa saiu do patamar de 55 mil pontos e atingiu o nível dos 65 mil pontos, acumulando alta de quase 20% até março deste ano. Veja o gráfico.

No entanto, a partir do segundo trimestre de 2012 o índice recuou e voltou ao patamar de 55 mil pontos, anulando os ganhos anteriores. Apesar de os cortes da Selic terem continuado, as preocupações com o nível do endividamento do brasileiro e a lentidão para que os custos mais baixos dos juros fossem repassados para os empréstimos ao consumidor foram os fatores internos que mais contribuíram para a queda dos preços das ações. O agravamento da crise econômica mundial e o risco de uma forte desaceleração global também influenciaram a retomada do pessimismo com o desempenho da bolsa.

A redução dos juros provoca reações diferentes nos investidores, dependendo do grau de aversão a riscos. Logo após o primeiro corte da Selic, muitos aplicadores correram para comprar NTN-Bs, títulos públicos indexados à variação do IPCA, o índice oficial da inflação. O temor era que a política conduzida pelo BC levasse a um aumento generalizado dos preços.

Apesar de a rentabilidade das NTN-Bs nos últimos doze meses ter sido excepcional, a razão não foi a alta dos índices de preços. A NTN-B Principal com vencimento em 2015, por exemplo, rendeu 23% desde julho do ano passado, mesmo com a redução do ritmo da inflação. Os juros dos papéis negociados no mercado caíram de 6% ao ano para 3% ao ano, mais o IPCA. Foi essa redução dos juros pela metade que proporcionou ganhos de capital para os detentores dos títulos, o que explica o excelente retorno dos investidores.

Períodos de queda dos juros favorecem as aplicações financeiras mais agressivas, seja por meio da compra de títulos de renda variável, seja na forma do alongamento do prazo das operações de renda fixa. No entanto, é fundamental manter em perspectiva o nível de risco global da carteira.

Não existe vínculo infalível entre o patamar das taxas básicas de juros e o bom desempenho das alternativas mais arriscadas. A relação não é imediata e não basta que os juros caiam para que as ações se tornem, automaticamente, um bom negócio.

Em contrapartida, algumas companhias podem conseguir bom desempenho a despeito do cenário internacional. Tudo depende de como o aumento da renda no Brasil afeta a venda dos produtos oferecidos pela empresa e os seus lucros. 
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