Para diplomata, Brasil não sofrerá muito com desaceleração chinesa

Para diplomata, Brasil não sofrerá muito com desaceleração chinesa

publicado em 09/03/2012 às 09:45:29



Por Guilherme Serodio | Valor

RIO – O embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, não teme que a expectativa de desaceleração do crescimento chinês neste ano cause grande redução nas exportações brasileiras para o país asiático. Para Hugueney, a prioridade do Brasil no comércio bilateral é diversificar a pauta de produtos vendidos aos chineses.

A China deverá crescer em torno de 8% neste ano, o que causará “um impacto sobre a demanda chinesa por commodities” e poderá levar a uma queda pequena nas importações chinesas de minério de ferro e soja. No entanto, “não há expectativa de redução brusca [das exportações brasileiras para a China]”, disse o embaixador.

Leo%20Pinheiro%2FValor  Hugueney: economia chinesa está mudando de perfil

“Atualmente a China está procurando mudar o perfil de sua economia. É positivo que haja uma redução do crescimento chinês”, disse Hugueney, acrescentando que essa redução não deverá ser drástica. Ele destacou que este é um ano de transição política, período em que normalmente se afrouxa a política monetária e fiscal.

Para o embaixador, a concentração da pauta de exportações para a China deve ser a grande preocupação do Brasil neste momento em relação ao país asiático. De acordo com ele, durante a reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Consban), no dia 13 de fevereiro, em Brasília, o governo brasileiro indicou aos chineses que é necessário introduzir correção no comércio bilateral.

As trocas entre os dois países têm trazido dois problemas ao Brasil. O primeiro é o aumento de ritmo das exportações chinesas para o Brasil, “que evoluiu de uma forma extraordinária” nos últimos anos, enquanto a China busca vender para os mercados emergentes o excedente de produção que a Europa e os Estados Unidos não estão comprando. O outro problema é o grande volume de exportação chinesa de produtos de baixo custo, como têxteis e brinquedos, que criam um problema para a indústria brasileira.

Sem especificar que medidas o governo brasileiro poderia tomar para frear as importações chinesas, Hugueney afirmou que o Brasil tem na mesa duas possibilidades de curto prazo. Segundo ele, o governo poderia tomar medidas de proteção unilateral – como vem fazendo desde o segundo semestre do ano passado, quando aumentou o IPI para carros importados –- ou negociar medidas com os chineses, o que, segundo ele, vem sendo feito. “O governo está tratando disso de uma forma muito cuidadosa”, disse.

“Você pode dizer que ela [a China] é difícil de negociar. Eu reconheço que é difícil, mas ela negocia”, afirma o embaixador. “Não é só a China que é importante para o Brasil, nós também somos importantes para a China”, ressaltou Hugueney. Segundo ele, a China sempre dialogou com o Brasil e nunca procurou retaliar ou levar o país à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Perguntado se salvaguardas contra os produtos chineses ou um acordo de restrição voluntária de exportações por parte dos chineses seriam as possibilidades brasileiras para frear as importações chinesas, Hugueney afirmou que “o leque de opções é muito grande”.

“Eu sempre defendo que se procure fazer coisas compatíveis com a norma internacional”, afirmou Hugueney. Acordos de restrição voluntária são vetados pela OMC. Mas, “se a negociação não funciona, você tem que ter a possibilidade de adotar restrições para evitar esse tipo de crescimento [das importações]”, disse. “Você não pode correr o risco de falar deixa correr. Essa fase de deixar correr já passou”, afirmou

Por outro lado, o governo brasileiro tenta aumentar o peso de produtos de maior valor agregado na pauta de exportações para a China. Hugueney lembrou a forte presença que a Embraer tem no mercado chinês e a recente entrada da BR Foods no país.

“É melhor equacionar [o comércio] pela via do diálogo do que equacionar pela outra, mas a outra está sempre disponível”, disse o embaixador.

(Guilherme Serodio | Valor)

Disponível em: Jornal Valor Econômico

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